Capoeira em Rondônia: refúgio, profissão e força cultural

Publicada em 

16 de julho de 2025

às

09h46

A capoeira, arte marcial brasileira que mistura dança, luta e música, é mais do que um esporte em Rondônia: é refúgio, cultura e ferramenta de educação.

No meio da roda está Railan De Brito, capoeirista há cerca de 30 anos. Ele conta que tudo começou com o convite de um amigo e que, num momento difícil da vida, a capoeira virou família.

“Quando a capoeira entrou na minha vida, ela mudou tudo aquilo que eu tinha de conceito de família. Na época, a família que eu tinha passava por crises de separação dos meus pais. Minha mãe precisava trabalhar muito, não tinha muito tempo pra gente. A capoeira me reeducou, me torna um cidadão melhor. A capoeira chegou na minha vida pra ser uma mãe, pra me abraçar e falar ‘é esse caminho aqui’”, disse Railan em entrevista com Ana Beatriz Vieira.

Para ele, a capoeira é porta de entrada pra outras culturas populares.

“Dentro da capoeira eu descobri outras culturas. A gente começa achando que é só levantar a perna pro alto, fazer os golpes e saltos mortais. Mas, com o tempo, você vai descobrindo o samba de roda, o maculelê, a puxada de rede. São culturas populares que hoje são reconhecidas como patrimônio imaterial da humanidade.”

A paixão virou profissão. Railan começou a dar aula aos 15 anos de idade e, com a experiência, criou o projeto Vida Capoeira, que une esporte e educação.

“A capoeira se tornou minha profissão e através dela eu tive outras formações com grandes profissionais da pedagogia. Sempre dei aula em escolas. Essa passagem pelas instituições de ensino me trouxe uma formação além da capoeira, voltada para o desenvolvimento do ser humano.”

No grupo, histórias se cruzam. Adalsocorro, aluna do projeto, acompanhava o marido e o filho em festivais até decidir entrar para a roda.

“Foi numa viagem pra Ji-Paraná. Enquanto eles apresentavam capoeira, comecei a me perguntar ‘por que não iniciar também?’. Quando voltamos pra Porto Velho, comuniquei que queria praticar. Isso foi em 2013.”

Diagnosticada com uma doença autoimune, ela encontrou na capoeira um aliado para manter o corpo e a mente saudáveis.

“Tenho um travamento no quadril, não tem muito alongamento, então tenho essa dificuldade. Mas isso não me impede de fazer os movimentos. Já tive depressão um tempo atrás, e isso me ajuda muito a não voltar a ter. E também na questão da ansiedade. É meu refúgio.”

Apesar de ser reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial no Brasil, a capoeira ainda luta por mais incentivo em Rondônia.

“Aqui no estado de Rondônia temos poucas escolas de capoeira, poucos trabalhos. Mas todos os profissionais que estão na ativa estão firmes e fortes, levando a capoeira pra frente”, destaca Railan.

Enquanto o som do berimbau ecoa, cada ginga conta uma história. Em Rondônia, a capoeira é resistência, cultura e, principalmente, pertencimento.

Por Portal GE Rondônia

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